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Quando Maria de Fátima Rodrigues Andrade chega à creche Francesca Zacaro Faraco, que atende filhos de servidores da UFRGS, abre um sorriso. É hora de reencontrar suas crianças e começar mais um dia. “Profe Fáta”, recreacionista do quadro da Universidade, enfrenta essa rotina desde 1986. Mas, para ela, as tarefas são só alegria.
“Foi amor à primeira vista”, define Fátima, a respeito de sua função. Ela educa 17 meninos e meninas entre um e meio e dois anos de idade, mas explica que já atendeu a todas as turmas da creche. “No início do ano, a gente pode escolher as classes com que quer trabalhar.” Assim, as professoras têm contato com todos os alunos e colegas da creche, o que torna a atmosfera agradável.
Com as crianças, Fátima revela carinho e cuidado. A boa relação entre os novos alunos e as educadoras surge naturalmente em um período de adaptação. Durante algumas semanas, os alunos frequentam a creche por poucas horas a cada dia, e esse tempo é gradualmente ampliado. “No início, é difícil separar a criança dos pais e entregá-la a um adulto estranho, mas em menos de um mês ela já te dá os braços e sorri.”
No seu entendimento, o mais recompensador dessa profissão é o retorno. Os laços criados com os pequenos, conta, são tão fortes que não se desfazem facilmente. Emocionada, ela relata que, ao se deparar na rua com um ex-aluno, o sentimento de satisfação a invade: “Quando eu encontro jovens que foram meus alunos, às vezes nem percebo, porque a fisionomia muda bastante, mas eles mesmos me reconhecem. É muito gratificante saber que não fui esquecida”. Antigos alunos visitam a escola até hoje para matar a saudade da época de meninice.
Como as crianças têm interesses difusos e pouca capacidade de permanecer por período extenso em uma mesma atividade, as professoras desenvolvem projetos que prendam a atenção por curtos intervalos de tempo. O maternalzinho, turma da profe Fáta, participa de contação de histórias, jogos no pátio, brincadeiras na ludoteca. Entre as ações, a preferida de Fátima é a pintura. “Ali, vê-se a evolução de uma semana para outra. Podemos identificar o crescimento de cada um através dos desenhos produzidos por eles.”
O desenvolvimento infantil é incentivado pelas recreacionistas em todas as horas do dia, como no momento das refeições. “A utilização do garfo e da faca pelas crianças, por exemplo, inicia com o interesse dos alunos, já que as professoras também os usam.” Por perceberem que o comportamento dos adultos influencia as atitudes das crianças, as funcionárias estimulam suas descobertas.
Fátima faz tudo com muita disposição desde a chegada. “É muito importante estar pronta para receber as crianças e dar tranquilidade aos pais. Não nos preocupamos apenas com os pequenos, mas também com os responsáveis. Eles nos entregam suas joias.” A intenção é transmitir segurança para os adultos poderem trabalhar descansados, informa a servidora.
A mesma cautela com a recepção inicial é vista no auxílio da passagem das crianças para o colégio. A fim de que a entrada na Educação Fundamental não seja traumatizante, a Creche da UFRGS faz um trabalho de introdução à cultura da primeira série. Para isso, explicam aos alunos do Jardim de Infância que eles passarão para outra instituição, um pouco diferente da escolinha. “Eles chamam o colégio formal de ‘escola grande’, pois já foram preparados para enfrentar essa nova realidade.” Por isso, Fátima costuma dizer que “eles entram no colo e saem caminhando em direção à escola grande”.
Antes de ingressar na Universidade, Fátima desenvolvia um trabalho administrativo na Prefeitura de Porto Alegre. Como gostava de crianças e cursou magistério, ela aproveitou a oportunidade de prestar concurso para a UFRGS, na vaga de recreacionista. “Minha sobrinha, fi lha do meu irmão, já estava aqui, então eu conhecia o ambiente. Apesar de nunca ter trabalhado com crianças, achei que seria um desafio. E vim.” Hoje ela reconhece que essa foi uma aposta acertada, foi uma paixão que ela própria escolheu.
Nas horas vagas, Fátima trabalha na Associação dos Servidores da UFRGS e UFCSPA (ASSUFRGS). De onde ela tira tanto entusiasmo? Fátima responde, com um brilho especial nos olhos: “Aqui é minha energia”.